Fiz 50 anos esse ano. Em maio à pandemia de covid-19. Em meio ao governo mais funesto de todos.
Eu fiz 50 anos 1458 dias depois da morte da minha mãe. Fiz 50 anos depois de passar 1458 dias inteiros sem ela.
Eu fiz 50 anos e com ele ganhei diabetes, hipertensão, bruxismo, joelho ferrado e várias outras picuinhas sobre as quais ninguém, nem eu, quer ler. Todas banais o bastante. Também a banalidade é uma questão que atormenta aos 50. A promessa que se foi, seja do que for, não se cumpriu aos 50.
Esse cenário patético e meio desolador é o que me ocupa todos os dias.
A respeito de promessas, desde muito cedo eu tinha feito a promessa para mim mesma de que aos 50 (ou em algum momento próximo), teria lido os grandes livros da literatura, teria entrado na Grande Conversa. E foi mais uma das muitas promessas que não cumpri.
Eu gostaria de ter chegado aos 50 conhecendo as grandes obras da Grande Conversa, tendo lido os Grandes Livros, tendo um arsenal de referências vindas deles. Não aconteceu.
Calhou que neste ponto da minha vida estou precisando de distração. Em algum momento muito próximo vou ter que retirar ou diminuir drasticamente o açúcar da minha alimentação, e isto sendo completamente viciada em açúcares.
Pesa também o fato de que já passei da metade da vida, não tenho mais tanto tempo assim, e gostaria de cumprir esta promessa.
A promessa de ler as Grandes Obras da Literatura Mundial. Não vou discutir sobre o significado de Grande Obra da Literatura. Eu tomo como dado, o Cânone Ocidental mesmo, pois era nestes livros que eu pensava quando fiz a promessa em algum ponto da adolescência, ou talvez do fim da infância. São os livros que mais aparecem nas listas dos “100 mais” de vários lugares e instituições.
Alguns destes eu já li, que bom.
Quero ler para me distrair das fissuras que vão vir da falta do açúcar. Quero ler para esquecer o medo do que está acontecendo com meu trabalho. Para esquecer esse governo nefasto. Para esquecer a solidão do século XXI. Para não me lembrar dos adoecimentos da velhice, dos problemas dos meus filhos, da velhice do meu pai, para não me perder nesse desastre que é o mundo.
Fiz um plano de leitura então, que tem o banalíssimo nome de 50 anos, 50 livros.
Imaginei um plano para um ano, que servirá também para me ajudar a escrever sobre os livros que leio, escrever qualquer coisa, eu nunca soube fazer isso, quem sabe eu aprenda agora.
Dos 50 livros que escolhi, 39 são da literatura internacional e 10 da literatura nacional. Ainda falta um, e vou completar a lista. Ou mais de um, na verdade, no fim das contas eu coloquei 3 Shakespeares juntos, contando como um só, pois já fiz uma leitura meio apressada deles ano passado para um curso. Mas ainda não sei sobre isso. E também ainda não sei por qual livro começar.
Então é isto, até o ano que vem quero ter terminado estes livros todos. É bem ambicioso esse desejo, vejamos como me arranjarei com ele.
A lista de livros (provisória), é a seguinte:
1. A Divina Comédia – Dante
2. A Montanha Mágica – Thomas Mann
3. A vida e as opiniões do cavalheiro Tristram Shandy – Laurence Stern
4. Ao Farol – Virgina Woolf
5. As Aventuras de Huckleberry Finn – Mark Twain
6. As Viagens de Gulliver – Jonathan Swift
7. As Vinhas da Ira – John Steinbeck
8. Contos da Cantuária – Geoffrey Chaucer
9. Dom Quixote – Cervantes
10. Em Busca do Tempo Perdido – Proust
11. Esperando Godot – Samuel Beckett
12. Folhas da Relva – Walt Withman
13. Fome – Knut Hamsun
14. Grandes Esperanças – Charles Dickens
15. Guerra e Paz – Tolstoi
16. Hamlet/ Otelo/Macbeth/Rei Lear – Shakespeare
17. Histórias Extraordinárias – Allan Poe
18. Ilíada – Homero
19. Irmãos Karamazov – Dostoievski
20. Livro do Desassossego – Fernando Pessoa
21. Memorial do Convento – Saramago
22. Middlemarch – George Eliot
23. Moby Dick – Melville
24. O Conde de Monte Cristo – Dumas
25. O Homem Invisível – Ralph Ellison
26. O Homem Sem Qualidades – Robert Musil
27. Os Miseráveis – Victor Hugo
28. Pai Goriot – Balzac
29. Retrato de Uma Senhora – Henry James
30. Romeu e Julieta – Shakespeare
31. Som e A Fúria – Faulkner
32. Ulisses – James Joyce
33. Uma Confraria de Tolos – John Kennedy Toole
34. Viagem ao Fim da Noite – Louis-Ferdinand Céline
35.
36.
37.
38.
39.
40.
41. A Menina Morta – Cornélio Pena
42. Avalovara – Osman Lins
43. Capitães de Areia – Jorge Amado
44. Laços de Família – Clarice Lispector
45. Memórias do Cárcere – Graciliano Ramos
46. Menino de Engenho – José Lins do Rego
47. O Quinze – Rachel de Queiroz
48. O Tempo e o Vento – Érico Veríssimo
49. Os Sertões – Euclides da Cunha
50. São Bernardo – Graciliano Ramos